Durante longo período da história da humanidade se verificou que as mulheres foram dominadas pelos homens e, sendo assim, isto se dava em decorrência de uma cultura que fez tradição há séculos, por isso, imutável, devendo todos conformar-se com tal realidade, mesmo não assentindo, como era o caso de muitas mulheres. Elas, durante a evolução da sociedade ocidental, nunca se conformaram com a situação de inferioridade, mas nem sempre tiveram oportunidade de expressar-se. Foi a partir do momento em que puderam fazer suas vozes serem ouvidas, que elas não mais se calaram e, desse momento em diante, a vida das mulheres mudou consideravelmente.
Foi unindo-se em torno das lutas por reconhecimento que as mulheres começaram a ocupar um espaço antes reservado somente aos homens, o público. Das lutas eventuais passaram aos movimentos sociais de maior expressão em busca da igualdade, de reconhecimento e de respeito às diferenças naturalmente existentes entre homens e mulheres. A partir deste momento, as mulheres adquiriram uma nova identidade, que possibilitou uma nova história das mulheres, agora com direitos assegurados formalmente e inseridas nos diversos campos de atuação do mercado de trabalho.
O século XXI atesta esta nova realidade, com mulheres inseridas no mercado de trabalho em diversas áreas de atuação, à frente de postos de comando, mulheres independentes que não mais se sujeitam à violência por parte dos maridos ou companheiros, mulheres com voz ativa na sociedade tomando decisões importantes no contexto social, mulheres com liberdade e direito de expressão, enfim, mulheres cidadãs, porém, isso não quer dizer que as desigualdades deixaram de existir, elas persistem, todavia de forma mais amena, vez que grande parcela da população de mulheres, atualmente, não silencia.
No entanto, apesar de dar sua contribuição à família, às empresas, à sociedade, a mulher ainda tem sido considerada uma força de trabalho secundária, mais cara e menos produtiva. A maternidade é central na produção da imagem secundarizada da mulher como trabalhadora. A imagem dominante é sempre a existência de um risco permanente de gravidez entre as mulheres trabalhadoras. Contudo, é dado objetivo que o número de filhos por mulher na força de trabalho vem-se reduzindo significativamente nas últimas décadas.
Além da maternidade, existe toda a questão do cuidado, que se associa naturalmente a ela: com os filhos, com a casa, com os idosos, com o marido. Há sempre uma força pressionando a mulher à volta para o mundo privado do lar.
Deste modo, com essa situação e circunstância, ou seja, a das mulheres cuidarem dos filhos, da casa, do marido ou pais ou outros dependentes, elas vão aos poucos sendo levadas a não ter todas as informações sobre novas técnicas e tecnologias desenvolvidas para proteger o grupo. Vão sendo excluídas do conhecimento. Elas vão sendo privadas de informações importantes que, em contrapartida, permanecerão restritas aos homens.
Entretanto, com o passar dos anos, foram sendo incorporados no ordenamento jurídico novos direitos para as mulheres, direitos estes que foram conquistados arduamente por meio dos movimentos sociais engendrados por elas, que teve como consequência a abertura de uma nova visão de relações de gênero capaz de construir uma “nova sociedade”.
No final do século passado houve uma grande transformação, não somente nas relações familiares como também no mercado de trabalho, pela entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho remunerado. As mulheres já faziam parte deste ramo, porém, sem remuneração. O trabalho que exerciam era, na maioria das vezes, dentro dos seus lares e não por isso menos valoroso, porém, diante da sociedade patriarcal, era um trabalho invisível.
O processo de inserção das mulheres, em grande escala, no mercado de trabalho remunerado trouxe consigo mudanças significativas na família, pois agora a mulher participa de forma decisiva no orçamento doméstico, o que facilita sobremaneira a independência dela, livrando-a da dependência financeira que fazia com que elas se submetessem aos mandos do marido, característica típica do sistema patriarcal, onde elas eram dominadas pelos homens. Nas palavras de Castells (1999, p.210), “com as mulheres trazendo dinheiro para casa e, em muitos países, os homens vendo seus contracheques minguar, as divergências passaram a ser discutidas sem chegar necessariamente à repressão patriarcal”, dessa forma abalando fortemente a tradicional ideia do patriarcalismo de que o provedor da família deveria ter privilégios dentro da relação familiar. Tal tradição deixou de fazer sentido, vez que, a partir de agora, os dois concorrem com as despesas da casa.
Com o advento da Constituição de 1988 percebeu-se que houve um aumento considerável de mulheres ocupando cargos importantes em diversas áreas de atuação, como a ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie Northfleet ; também a Governadora eleita no Estado do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, que comandou o Estado a partir de janeiro de 2007, fato histórico para os gaúchos, pois é a primeira mulher a assumir tal cargo; ainda, as mulheres aprovadas em concursos públicos para os cargos de Juiz de Direito, Promotor de Justiça, Delegados de Polícia, Defensores Públicos, dentre outros tantos, que têm tido altos índices de aprovação de candidatas do sexo feminino, o que demonstra que elas estão, sim, crescendo profissionalmente e atingindo postos de comando nunca antes visto na história do Brasil.
Dessa forma, as mulheres evoluíram muito e, mesmo sendo consideradas como o sexo frágil, quando comparadas aos homens, venceu muitas dificuldades e barreiras. Dessa forma, as mulheres têm exercido atividades que algumas feministas do passado não poderiam imaginar, como por exemplo, dirigir um ônibus, operar guindastes e, mais recentemente, temos a primeira presidente do Brasil, Sra. Dilma Roussef.
Porém, há que se destacar que este aumento ainda não é satisfatório, pois o número de mulheres que atingem o topo das carreiras de destaque e conquistam cargos de comando ainda é bem inferior aos dos homens nas mesmas condições.
Mesmo diante de algumas barreiras que impeçam que as mulheres adentrem no mercado de trabalho em iguais condições com os homens, a advocacia já pode ser considerada uma profissão com forte presença de mulheres, bem como as demais carreiras jurídicas que já contam com considerável número de mulheres ocupando cargos de relevância e poder. A maior dificuldade ainda está na questão salarial, vez que muitas mulheres ainda realizam atividades iguais as dos homens, sujeitando-se a perceberem salários inferiores, no âmbito privado. A partir do momento que as mulheres começaram a ocupar os cargos de chefia, e diga-se de passagem, muito bem executados, passou-se a aumentar admiravelmente a participação feminina no mundo jurídico, espaço este anteriormente reservado aos homens.
A “sociedade dos homens”, assim denominada por Touraine (2007), produziu muita energia e, ao mesmo tempo suscitou tensões que atingiram o ponto de ruptura. O pólo dominante, da conquista, da produção, da guerra, era o dos homens, enquanto o pólo feminino era figura principal da inferioridade e da dependência. A mulher, mesmo que ausente do pólo dirigente participava do sujeito tanto quanto o homem, mas em situação de dominação. Na verdade, existe um só sujeito, definido como transformação do indivíduo socialmente determinado em criador dele mesmo, contudo, está presente de modo desigual em cada um dos pólos masculino e feminino.
Porém, o autor assegura que a sociedade contemporânea acena para uma nova realidade, qual seja, ascensão das mulheres tornando-se sujeitos de direitos, promovendo uma revolução no antigo sistema.
O autor procura deixar visível a inversão de modelo cultural que viu as mulheres aceder ao papel central, o que não significa que elas tenham se tornado profissional e intelectualmente superior aos homens, mas que elas ocupam um lugar mais central na nova cultura. E continua, atentando para o fato de que é necessário ir além das denúncias da condição social da mulher, não bastando somente denunciar a violência, exploração, desigualdade, injustiças com as mulheres, mas também questionar as estruturas sociais que sustentam tais fatos, acontecimentos que envolvem as mulheres.
Sabe-se que o peso da desigualdade e da violência ainda esmaga um grande número de mulheres. Na verdade muitas delas ainda se submetem a tratamentos desumanos, contudo, conjuntamente com a população, elas são portadoras de um novo modelo cultural.
Há ainda quem questione acerca de como se falar em dominação feminina sendo que os homens ainda detêm o poder em muitos aspectos, ainda são em maior número autoridades. Tal realidade é evidente, ninguém contesta que homens ainda detêm poder e dinheiro, mas as mulheres já têm o sentido das situações vividas e a capacidade de formulá-las. Para Touraine (2007, p.85), “ainda que o mundo continue ensurdecido pelos gritos, pelas ordens e discursos proferidos pelos homens, descobrimos cada vez mais que as mulheres já se apossaram da palavra, ainda que os homens continuem detendo o poder e o dinheiro”.
Hoje, o que se busca é reunir o que foi separado pela primeira modernização, o único movimento cultural capaz de insuflar em nossa sociedade uma nova criatividade é o que procura recompor a vida social e a experiência pessoal.
As mulheres de hoje superaram a antiga polarização, atualmente a maioria delas trabalha, têm direito à licença maternidade, conservando a superioridade que possuem pelo fato de poder dar à luz. Os filhos são para elas uma fonte de poder, e é muito raro que o pai tenha uma relação tão forte com eles. As mulheres pensam mais em termos de superação do que de inversão ou compensação das desigualdades.
Os homens, enquanto atores dominantes do sistema antigo instauraram um sistema de pensamento e de ação que define e impõe constantemente opções, já as mulheres, pelo contrário, afirmam a própria superioridade por sua complexidade, por sua capacidade de perseguir diversas tarefas ao mesmo tempo. Elas pensam e agem em termos ambivalentes, termos que permitem combinar e não escolher. E é precisamente num mundo de ambivalência que estamos vivendo.
O que se vive na contemporaneidade não se trata de uma nova polarização: esta nova sociedade busca reconstruir a unidade de um mundo que ficou dilacerado entre um universo masculino definido como superior e um universo feminino, definido como inferior. As mulheres não buscam construir uma sociedade de mulheres, “considerada mais doce e mais afetiva do que uma sociedade dos homens, julgada mais conquistadora e mais voluntariosa” (TOURAINE, 2007, p.117), mas sim um novo modelo de cultura que possa ser vivido por todos, por homens e mulheres. O que elas pretendem é harmonizar o que havia sido separado anteriormente, numa polarização entre os sexos masculino e feminino, que gerou extremas tensões e conflitos. Essa cultura nova busca recompor a experiência pessoal a coletiva, e igualmente unir o que tinha sido separado.
O que se almeja é que homens e mulheres tenham igualdade de condições em todas as esferas da vida pública e privada, para que vivam em harmonia. Que as lutas sejam travadas conjuntamente por homens e mulheres em busca de uma sociedade mais justa e vida digna a todos os cidadãos, independentemente de ser do sexo feminino ou masculino