Por Antonia Braz
A importância da saúde mental para reduzir o absenteísmo e restaurar o sentido do trabalho
Vivemos tempos em que o corpo está presente, mas a alma parece cansada.
E, quando o corpo começa a faltar, seja por licenças médicas, afastamentos ou desmotivação; é porque a alma já vem gritando há muito tempo, em silêncio.
O absenteísmo, fenômeno que preocupa cada vez mais as instituições públicas e privadas, vai muito além de números e planilhas. Ele é o sintoma visível de um adoecimento invisível: o esgotamento emocional, o estresse crônico, a falta de propósito e o peso das relações desumanizadas dentro do trabalho.
O corpo fala quando a mente se cala
Antes de um atestado médico, há sempre um pedido de socorro não ouvido.
A dor física, as dores de cabeça, gastrites, crises de ansiedade, insônia é muitas vezes é a linguagem da alma tentando dizer o que não foi acolhido emocionalmente.
Na pressa do cotidiano, o trabalhador moderno se torna uma máquina de tarefas, esquecendo que por trás do crachá existe um ser humano.
E esse esquecimento cobra um preço alto: o afastamento, a improdutividade e, em muitos casos, o adoecimento coletivo dentro dos ambientes institucionais.
Cuidar da mente é cuidar da produtividade
Um município saudável começa com servidores saudáveis.
E um servidor saudável é aquele que se sente visto, valorizado e pertencente.
Não há política pública eficiente quando o corpo técnico está emocionalmente esgotado.
O investimento em saúde mental organizacional não é luxo e sim estratégia de gestão inteligente.
Cada palestra, roda de conversa, programa de escuta ativa ou campanha de prevenção representa um ato de cuidado que reduz afastamentos, melhora o clima organizacional e fortalece o vínculo com o propósito do serviço público.
A raiz do absenteísmo está na desconexão
Muitos gestores tentam resolver o problema apenas com controle de frequência, metas e advertências.
Mas a raiz do absenteísmo não está na preguiça, e sim na desconexão emocional.
Quando o servidor não se sente parte de algo maior, perde o sentido do trabalho.
E quando o sentido se vai, o corpo encontra justificativas para se ausentar — porque o espírito já se retirou há muito tempo.
O verdadeiro antídoto está em restaurar o sentido de missão, o pertencimento e o cuidado mútuo dentro das equipes.
É quando o trabalho volta a fazer sentido que o corpo volta a querer estar presente.
Doenças psicossomáticas: a alma no comando do corpo
A ciência já comprovou que o estado emocional influencia diretamente o sistema imunológico, hormonal e nervoso.
O que chamamos de doenças psicossomáticas são respostas físicas a conflitos emocionais não resolvidos.
Por isso, combater o absenteísmo passa por promover saúde integral: corpo, mente e relações saudáveis.
Treinamentos de inteligência emocional, escuta empática e mediação de conflitos reduzem drasticamente os afastamentos e criam ambientes emocionalmente seguros, onde o servidor se sente livre para ser humano — e não apenas funcional.
Um novo paradigma de gestão: cuidar é produtividade
Chegou a hora de substituir o modelo “cobrar e punir” pelo modelo “acolher e inspirar”.
Gestores que compreendem isso lideram equipes mais motivadas, produtivas e leais.
Porque ninguém falta a um lugar onde se sente bem.
Cuidar da alma dos que servem é a forma mais inteligente de fortalecer o corpo do serviço público.
O servidor que se sente apoiado adoece menos, trabalha melhor e leva para a comunidade o reflexo desse equilíbrio.
Conclusão
O absenteísmo é apenas a ponta do iceberg.
A causa profunda está no vazio emocional, na falta de sentido, no excesso de pressão e na ausência de espaços de escuta.
Portanto, que cada gestor, professor, enfermeiro, terapeuta ou servidor público entenda:
Quando o corpo falta, é a alma que está pedindo socorro.
E ouvir esse chamado é o primeiro passo para curar pessoas, equipes e instituições inteiras.
Antonia Braz é psicanalista e especialista em neurociência aplicada ao comportamento humano, palestrante e escritora, dedica sua trajetória a promover autoconhecimento, equilíbrio emocional e transformação sistêmica, unindo ciência, alma e propósito na construção de uma sociedade mais saudável e consciente.